Lamentável ver Ronaldo, representante do Comitê Organizador Local da Copa de 2014, tentar defender o indefensável.
Em artigo publicado ontem na “Folha”, o ex-jogador, que além de integrar o comitê tem uma série de contratos comerciais ligados ao Mundial, pede à sociedade brasileira que reveja seus conceitos em relação à Copa em vez de criticá-la, algo que talvez ele não possa fazer, até por ser parte do “establishment” e do próprio COL.
Diz que “a Copa não é da Fifa, do COL ou do governo”, mas “do Brasil”. Que traz “mais empregos, turismo, capacitação, melhores aeroportos, estádios à altura das nossas conquistas dentro de campo e um país com imagem internacional ainda mais consolidada”.
Não trata dos preços dos estádios, muito maiores do que previstos, do atraso no cronograma, dos projetos de infraestrutura que simplesmente não saíram do papel e de outras questões, alvos inclusive das manifestações de junho.
Segue dizendo que somos um lindo país e que faremos uma grande festa.
E afirma que “devemos, sim, debater o financiamento público dos estádios”, mas também outras questões, como o fato de as novas arenas serem modernas e estarem entre as melhores do mundo.
Parece piada. Debater agora depois que o estrago foi feito? Porque, quando ganhamos o direito de receber a Copa, em 2007, a promessa era de que não haveria um centavo de dinheiro público nos estádios, quando não houve outra coisa. Eles foram feitos com meu, seu, nosso dinheiro. E todos no padrão Fifa.
É triste ver Ronaldo, que também vai faturar na Copa como comentarista de TV, nesse papel. Mas o que poderíamos esperar do ex-jogador que só chegou ao COL graças a Andrés Sanchez e Ricardo Teixeira, convocado para ser escudo do segundo, na época presidente da CBF e atolado por denúncias de corrupção?
E o pior é que ele termina o artigo escrevendo o famoso “Imagina depois da Copa”, como se o Mundial fosse o ponto de partida para um Brasil melhor. Só se for para não repetirmos tudo o que foi feito de errado para viabilizá-lo. E como catalisador de protestos, porque, como disse Muricy Ramalho, se cobrássemos dos políticos o que cobramos de nossos jogadores… Pena ver Ronaldo mais ligado aos primeiros do que aos últimos. Pena mesmo. Mas não surpresa.