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Channel: legado – bastidores de Copa e Olimpíada
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Rio-16 x Atenas-04

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Escuto muita gente comparando a realização dos Jogos de 2016, no Rio, com os de 2004, em Atenas. E dizendo que o colapso econômico da Grécia tem relação com a Olimpíada que o país realizou, gastando uma fortuna que não tinha, assim como a Copa, em 2014, e a Olimpíada, dois anos depois, podem prejudicar muito o Brasil, especialmente por conta dos orçamentos que tendem ao infinito.

Discordo da comparação. E digo o porquê. No caso grego os Jogos foram apenas uma gota no oceano, como podemos constatar diante dos recentes acontecimentos que culminaram com o maior calote da história. Desde o ano passado ficamos sabendo que um dos grandes problemas foi que os políticos gregos simplesmente maquiaram as contas de 2003 a 2009 apresentadas à União Europeia.

Antes mesmo dos Jogos de Atenas a Grécia vinha gastando muito mais do que podia e apresentava uma contabilidade fictícia à UE. Depois da crise de 2008 os reais gastos do país começaram a vir a público e a Grécia teve de admitir que não teria como pagar sua dívida.

Gastou o que não podia também com a Olimpíada de 2004? Sim, mas seguiu gastando depois em todos os setores um dinheiro que não tinha. E que agora não tem como pagar.

A responsabilidade, portanto, não está com os Jogos Olímpicos, mas com os políticos e o governo grego que foram irresponsáveis em todos os sentidos, contraindo dívidas que sabiam que não teriam como bancar.

Quem também lembra do prejuízo dos Jogos de Montréal, em 1976, cujas contas só foram fechadas recentemente, para criticar o do Rio-2016, parece se esquecer de outros, como Los Angeles, em 1984, ou Moscou, quatro anos antes, que se mostraram lucrativos.

Não acho que o Brasil tenha que lucrar com a Olimpíada e a Copa, mas acho que deveria fazer o máximo para receber os dois eventos sem obras superfaturadas e desvio de dinheiro e deixando um legado para a população. Que muitas vezes é maior do que o esportivo. É um legado para a autoestima e para a imagem do país, além de um legado que pode ficar para o dia a dia do cidadão e contribuinte, como a melhoria da mobilidade urbana e das instalações esportivas, para citar apenas dois exemplos.

Mas da mesma forma que pode ser um legado positivo para a autoestima, pode ser um legado negativo se o exemplo do Pan for repetido. Com promessas aqui e acolá e no final um legado quase inexistente e custos multiplicados por dez.

Por enquanto, com a Copa de 2014, a imagem que passamos para nós mesmos é de incompetência e falta de planejamento, com tudo deixado para a última hora. Da Olimpíada pouco se fala ainda pois o Mundial tem ofuscado o evento que acontece dois anos depois. Mas uma hora vamos acabar falando dela…

Precisamos encontrar nossa fórmula, que não deve ser a do atraso, da falta de planejamento e do superfaturamento.

Não é porque a Grécia implodiu que vamos seguir o mesmo caminho. Até porque, repito, a Grécia implodiu não por conta da Olimpíada, como insistem alguns por aí. O problema foi muito maior do que os gastos com 2004. Muito maior…


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