Reproduzo, abaixo, coluna que publiquei semana passada no diário LANCE!:
“Outro dia fui ver “Clube de Compras Dallas” no cinema e apareceu uma propaganda de uma multinacional de eletroeletrônicos sobre a Copa, antes de o filme começar, claro, num clima bem ufanista, velho estilo de “Pra Frente Brasil”, em que no final o sujeito pergunta se o pessoal tinha gostado ou algo assim. Fiquei surpreso quando a plateia se manifestou e pude ouvir várias vozes dizendo não.
Apesar de o governo e embaixadores do futebol brasileiro, como Pelé e Ronaldo, insistirem em dizer que o que importa agora é a Seleção em campo, o hexacampeonato, enfim, e que temos todos que apoiar o Brasil, sinto que muita gente está conseguindo separar o que se passa (ou passará) dentro das quatro linhas de uma série de mazelas que envolvem a organização do torneio.
Por mais que Pelé, Ronaldo e Cia. possam pedir para a população evitar manifestações durante a Copa, focar o gramado, fazer muita festa, beber um bocado e relegar o resto para segundo, terceiro ou décimo plano, não dá para dizer que não houve desperdício de dinheiro público, que o povo brasileiro é cordial, simpático e acolhedor e por isso vai continuar abaixando a cabeça para tanta coisa errada, que as obras de infraestrutura podem não ter ficado prontas para o Mundial, mas algum dia estarão aí para todos verem e usufruírem…
É um discurso que não pega mais e coloca quem o faz no ridículo. Como aconteceu com Pelé, para quem “futebol não tem nada a ver com a corrupção dos políticos” ou o próprio Ronaldo, que vê a Copa como “um grande negócio para o país, que deixará centenas de legados para nossa população”.
A atuação da Seleção é uma coisa, a situação do país e a promessa jamais cumprida de que veríamos uma Copa da iniciativa privada, quando teremos um Mundial irrigado de dinheiro público inclusive em arenas particulares, outras bem diferentes e que podem, sim, ser contestadas. Porque a Copa foi feita com o meu, o seu, o nosso dinheiro e temos o direito de cobrar como ele está sendo investido.
Em relação à Seleção, a cobrança será outra. De um bom futebol. E imagino que, como aconteceu na Copa das Confederações, quando o clima fora dos estádios era de turbulência, os torcedores irão apoiar com muito afinco a equipe em campo. Eles devem proporcionar um espetáculo à parte, espetáculo, aliás, que deveremos ver em todos os jogos, mesmo num Irã e Bósnia, porque o brasileiro gosta de futebol e também sabe festejar, como já demonstrou tantas vezes.
O que não dá é para A ou B querer tirar proveito do que acontece dentro dos gramados pra desviar o foco das atenções e passar a imagem de que está tudo bem, que interessa ganhar o título e caso isso aconteça todo o dinheiro usado na organização terá sido válido. Porque não terá. Poderia ter sido muito mais bem aproveitado, inclusive na Copa. Que agências de publicidade e patrocinadores fiquem atentos a tudo isso para não marcarem gol contra.”